
"Nada é permanente, exceto a mudança."- Heráclito
Autonomia
No processo da interação entre o cuidador e o paciente de AVC, a autonomia entre ambos é interdependente. O próprio cuidador percebe que a autonomia de um e outro é condicionada pelo nível de reabilitação alcançado pelo paciente e este está dependente também da metodologia de cuidado adotada.
Muitas vezes, a família compromete-se a assumir o papel de cuidador do paciente e alguns deles sem receber remunerações como pagamento pelos cuidados prestados (ao domicílio), e isso mudará não só a forma de vida da vítima do AVC, como também irá alterar o quotidiano do familiar e assim há uma adaptação por parte dele da sua vida, conforme as necessidades do doente.
O cuidador deve procurar que o doente recupere ao máximo a sua autonomia e independência, estimulando as suas capacidades e não realizando tarefas diárias por ele. Assim, o cuidador deve tratar o paciente como um sujeito ativo e participativo na sua recuperação, procurando: estimular o restabelecimento de movimentos; reorientar o doente no tempo e no espaço e oferecer outros cuidados que possam ajudar na recuperação (promover o bem-estar físico e mental do doente). Há a possibilidade de ir recuperando a autonomia e isto é visível quando começa a recuperar a funcionalidade, recuperando movimentos que haveriam sido afetados pela doença, recuperando também a consciência e quando se torna cada vez mais capaz de assumir as suas tarefas diárias e de efetuar essas atividades sozinho, sem apoio.
Essa sobrecarga poderá estar associada tanto à dependência física, como a mudança comportamental dada após o AVC. E ainda há a existência de outros fatores na mudança do estilo de vida dos cuidadores que acabam por limitar a vida do próprio e conduzir a alguma insatisfação: isolamento social; sobrecarga de atividades; a própria perda do companheiro em certas atividades sociais; mudanças e insatisfações conjugais; distúrbios comportamentais do portador de AVC; mudanças nos relacionamentos entre familiares e círculos de amigos; relutância de suporte (falta de apoio por outras entidades); isolamento social e dificuldades financeiras (problemas no emprego).Assim, os cuidadores poderão vir a sofrer de stress adicional físico, emocional e financeiro devido à condição e poderão experienciar tensão, incluindo a ansiedade ou depressão em algum momento após o AVC. Por isso considera-se muito importante que o cuidador esteja apto para assumir esta posição, uma vez que a forma como irá adotar para cuidar do doente, irá influenciar a sua reabilitação e, por consequente, a sua autonomia. E, também é fundamental que haja formação adequada e preparação para assumir o papel de cuidador, pois a qualidade de vida do paciente depende de tudo isto.


Referências:
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Barros, J.E.F.(1991). Acidente vascular cerebral, pp. 133-147. In R Nitrini& LA Bacheschi (orgs.). A neurologia que todo médico deve saber. Maltese, São Paulo
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Bocchi, S.C.M. &Angelo, M. (2008). Movendo-se entre a liberdade e a reclusão: vivendo uma experiência de poucos prazeres ao vir-a-ser um cuidador familiar de uma pessoa com AVC. Tese de doutoramento. Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem, São Paulo.
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Bocchi SCM 2004. Vivenciando a sobrecarga ao vir-a-ser um cuidador familiar de pessoa com acidente vascular cerebral (AVC): análise do conhecimento. Revista Latino-Americana de Enfermagem. 12(1), pp.115-121
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Silva, E.J.A. (2011). Reabilitação após o AVC. Monografia de Mestrado,Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Portugal.